• Texto: A Máscara da Dor
  • Autor: Erika Figueira
  • Interpretação: Erika Figueira (@erikapes)
  • Música: The Dust Brothers – Chemical Burn
  • Duração: 3min19s

Arte da vitrine: Rodrigo Sena

Erika Figueira - A Máscara da Dor

Este Po(D)ema faz parte de uma série. Parte 4/24.

A Máscara da Dor

Ela deu o seu jeito de navegar pelos rios de minhas artérias e levantando uma bandeira negra, a Dor foi se declarando minha comandante por seus meios sórdidos, ilustrando um entre os milhões de quadros de imagens que capturo ou liberto por segundo.

É, ela me condenou í solidão através da boca de poucas pessoas.

Ela me venceu multiplicando o verbo imperativo como se ele fosse um ví­rus, se instalou nas minhas ví­sceras até ter o poder de transformar a minha imagem em algo que por anos, gritei insistentemente não passar de ilusão.

Unhas compridas, facas, adagas, solventes ou ácidos não removeram a máscara estranha que foi lapidada em meu rosto cansado de decepção.

Encolhida em meu canto senti histórias parasitas se instalando na minha memória durante cada noite em total escuridío.

Ela montou em mim o que jamais fui, reformulando os fatos reais, fazendo minhas catástrofes cotidianas parecerem penitência merecida ou mentira contada por uma grande bandida sem noção.

Ela conseguiu me derrubar, me deixar com a cara em um chão que era tío seco, que nada dele brotava. Chovi tantas vezes mas água salgada não serve pra regar uma semente que dirá pra construir uma plantação.

Ela foi abrindo pequenos espaços pra desbravar minha paz, até que em um dia sangrento ela entrou no meu peito, através estreitos espaços ela se instalou em cada uma das fibras do meu coração.

Então ela colocou na minha boca suporte pra rédeas, nas costas celas e arreios, antolhos pra diminuir meu campo de visão.

A dor não é inteligente. Privando meus sentidos, tentando me fazer parecer uma megera através das mentiras de um pretenso prí­ncipe ela matou tudo que eu tinha de princesa, a dor esqueceu de amarrar minha mão.

Arranco agora essa máscara maldita, através de letras moldadas por meus dedos, eu mato a Dor com o ser que ela mesma alimentou quando negou água í minha solidão.

Tentando me transformar ela obteve sucesso, só não contava com a possibilidade dessa fera me poupar mais que os homens, e preservando a minha pele ela se alojou em outra instalação.

Não adianta Dor, essa fera me defende e tomou posse dos castelos que construí­ pra ela, que se transmutou em minha salvadora imaginação.

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