• Texto: O espelho, o muro e as nuvens (Texto da série “Fragmentos daqui e Dali”)
  • Autor: Erika Figueira
  • Interpretação: Erika Figueira (@erikapes) – Sexo & Tintas
  • Música: Epicland – The Song of the Wood Elves

O espelho, o muro e as nuvens

Estou parada. Eu estava com medo e como uma bandida eu tentei pular um muro, com arame farpado.

Ele fincou em minhas coxas, perto, bem perto de minha virilha. Não consigo ter forças para me mexer pra soltar minha pele.
Tentei, mas eu olho pra trás e vejo um espelho, se eu me soltar, vou me distanciar de minha imagem.

Olho pra frente, há um grande nevoeiro, às vezes as nuvens me deixam ver um pedaço do que há do outro lado, penso que pode ser alguma coisa boa e mexo um pouco minha coxa. O sangue esguicha com o meu esforço, as nuvens se abrem um pouco na minha frente.
Vejo algo no meio dessas nuvens, é um pássaro, só vejo um pedaço de suas asas e são negras-corvo? urubu? abutre? Não me vem em mente nomes de aves negras, que indiquem alguma liberdade-começo a fantasiar por segundos, que as nuvens se abrem e aparecem borboletas-lembro dos meus filhos e olho pra trás para chamá-los-

-eles não estão ali, o que está é o maldito espelho-esqueço a porra da borboleta e me lembro do maldito sangue-

É-as borboletas sumiram novamente-

Sorte-entre o espelho e as nuvens, sobre o muro-há uma seringa-
Com ela colho a tinta que corre em minhas veias-uma pena negra planou, caindo em minhas mãos-minhas coxas estão presas, mas o muro é branco-

Enquanto não saio daqui, escrevo meus versos em sangue.

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