- Texto: Adorada Melancolia
- Autor: Kell Bonassoli
- Interpretação: Kell Bonassoli (@kellbonassoli)
- Música: Nature
Adorada Melancolia
Tua ausência atormenta meus pensamentos e fere meus sentidos.
Ofusca qualquer beleza e torna vão qualquer esforço.
Tua ausência cria chuvas e inquietações, furta meus desejos e torna monocromáticos os meus desenhos.
Eu visto meu melhor sorriso e sigo nos trilhos, não há caminho que me leve até você, somente esta linha que circula todas as angústias.
Consegue tocar está tristeza? Pode ouvir as palavras sussurradas no escuro?
Eu deveria vomitar este veneno, exorcizar este demônio cruel que devora meu corpo por dentro, deveria lavar cada palavra.
Parece que esta melancolia preenche o vazio, a ilusão destroça minha mente e povoa este universo em que vivo só.
Eu deveria estrangular este gentil invasor, que enlaça minhas veias e absorve minha vontade, essa dor que já me faz companhia.
Não tenho forças para abrir mão deste delírio. Eu queria transmutar esta expectativa em algo menos amargo e doentio.
Fecho os olhos e entrego meus pulsos com um sorriso, fecho os olhos e salto para o mundo, fecho os olhos e não quero acordar.
Eu sei o quanto isto soa desesperado.
Neste momento, estou despida de pudores hipócritas e entrego a adaga em suas mãos.
Não!
Não posso permitir que você decida.
Não posso deixar que você tome de mim esta sombra.
Eu quero a escuridão, eu a amo.
Então fecho os olhos outra vez, aquieto a tempestade, abraço os pensamentos mais obscuros,
busco uma dessas cópias tão parecidas com felicidade, observo e aprendo a me comportar tal qual todos.
Não há luz, apenas reflexos, nada do que parece realmente é.
Voltas e voltas, as mesmas estações. Não há nada aqui.
Por mais repugnante que seja esta submissão, por mais medíocre que seja este conformismo, eu aceito e acaricio meus erros.
Brinco com as ideias e com as impossibilidades.
Nesta cela, eu sou a senhora de todos os desejos, neste lugar que eu mesma escolhi.
Sempre pude escolher.
Então não me condene e nem julgue.
Eu suporto esta dose.
E amanhã, eu volto aos trilhos. e sigo de novo, e de novo-
E quando a melancolia tentar esticar seus laços
Distorço notas e me desato
Escondo as cartas e me permito blefar