Sou e sempre serei um podcaster amador

Penso que AMADOR (pelo menos na acepção que damos em se tratando de podcast) é alguém que faz aquilo que AMA, ou seja, falar de um assunto (ou vários) do qual gosta e /ou domina, ou pelo menos tem interesse.

Quando comecei a publicar o Papo Filosófico, o fiz por sentir falta de podcast com uma temática mais “séria” ou pelo menos que se aprofundasse em certos assuntos. E naquela época, 2012, o único que se encaixava no que eu gostaria de encontrar era o WeRGeeks (atualmente UltraGeek) que apesar do tom descontraí­do e brincalhío sabia abordar com seriedade e inteligência os assuntos que demandavam esse tipo de abordagem.

Logo em seguida descobri o NPC, o TelhaCast, Mitografias e o Fronteiras da Ciência, que iam no mesmo sentido, cada um com sua forma peculiar. Tive que parar de publicar o Papo Filosófico por falta de tempo, mas principalmente pela dificuldade de encontrar e/ou sincronizar agendas das pessoas para poder gravar os episódios.

Continuei ouvindo podcasts e ainda durante as gravações/publicações do Papo Filosófico percebi que havia uma tendência muito forte e uma demanda muito grande dos ouvintes por discussões e explicações sobre textos, termos, decisões e contextos jurí­dicos.

Assim, percebi que muitas pessoas estavam discutindo temas sem a devida base para tanto. Discutiam Maioridade Penal sem a menor noção dos conceitos de Imputabilidade ou sobre a Teoria do Delito e da Pena. Foi então que comecei e pensar em fazer um Podcast Jurí­dico, ou voltado para leigos mas com temática jurí­dica. Nesse momento o grande desafio foi encontrar um FORATO que fosse atraente, com um conteúdo didático e um certo rigor cientí­fico sem ser chato e acabar cansando os ouvintes.

podcaster gravando em uma cadeira e mesa. Decidi então que faria episódios curtos, de no máximo 20 minutos de duração a abordaria/explicaria as principais notí­cias e discussões que estivessem “bombando” nas redes sociais e na mí­dia tradicional de forma que o ouvinte fosse capaz de entender o contexto, mesmo sem formação jurí­dica. Foi assim que surgiu a ideia do LexCast.

Mas, por trás disso tudo, existe um desejo de servir í sociedade, de oferecer algo de forma gratuita com a finalidade de orientar e educar as pessoas que estivessem buscando por esse tipo de conteúdo. E é justamente essa contribuição, sem qualquer finalidade lucrativa que me motiva a continuar. É a sensação do dever cumprido e a felicidade de ser útil aos demais membros da sociedade.

Mas acho que isso já é um hábito adquirido ao longo de mais de 25 anos de serviço público. Foi lá no TJAM.JUS.BR onde, depois de muitos anos refletindo, cheguei í conclusão de que eu pessoalmente poderia fazer muito pouco para resolver o problema de quem quer que fosse lá buscar ajuda, mas eu poderia pelo menos receber a pessoa com um sorriso no rosto, dar a ela toda a atenção que ela precisava, nem que isso se resumisse apenas í ouvi-la com atenção e ao final me restringir apenas í uma resposta negativa.

Isso porque percebi que muitas pessoas que chegam ao serviço público, já chegam ali cansadas de serem tratadas (ou maltratadas) como se estivessem ali recebendo um favor, uma caridade e não um serviço.

Então seja no serviço público, sejam nos episódios que publico, minha satisfação vem do fato que faço o que faço por AMOR, por ser um AMADOR e consegui aliar o prazer da prestação de um serviço PíšBLICO com o de ensinar e orientar que quer ou precisa do tipo de conteúdo que eu posso oferecer.

Talvez, justamente a estabilidade e a remuneração que recebo como servidor público me permitam, chegar em casa í s sextas feiras e dedicar 3 ou 4 horas da madrugada de sexta para sábado gravando, editando e publicando.

Assim, profissionalização, no que se refere ao fato de transformar algo que eu faço por AMOR em algo que seja feito em troca de dinheiro é algo que não se deva ou não possa fazer, ou que de qualquer forma possa ser considerado moralmente errado.

É apenas a minha opção. Mas devo confessar que não fico muito í vontade consumindo conteúdos que tenha um alto grau opinativo, quando isso é feito por um “profissional”.

Não sei descrever exatamente, mas “eu não levo muita fé” em quem omite uma opiniío, tendo sido pago para fazer isso. Ou seja: qual o grau de isenção dessa opiniío? Afinal alguém que foi pago para falar alguma coisa não poder ir contra os interesses de quem pagou.

Temos visto isso na mí­dia tradicional, onde os veí­culos de comunicação se transformaram em meras agências de propaganda ideológica, manipulando os fatos e transmitindo as informações de maneira, no mí­nimo, incoerente com os fatos concretos.

Daí­ vem novamente a pergunta: qual a credibilidade dessa informação e do seu conteúdo? Ao meu ver, nenhuma.

Talvez, até por isso, pode ser verdade o que se tem dito sobre a audiência da TV Globo que segundo o que se comenta nas redes sociais, vem perdendo audiência dia após dia, e junto com a audiência perde também a credibilidade que possuí­a junto í opiniío pública.

podcaster ajustando euqipamentosNesse ponto eu concordo com quem diz que melhor seria se a Globo assumisse/definisse publicamente as ideologias que defende e que lhe interessam, até porque nada há de errado nisso, visto que mesmo empresas (leia-se pessoas jurí­dicas) enquanto associação de pessoas tem o direito de defender este ou aquele interesse, esta ou aquela ideologia, pelo menos em um Estado Democrático de Direito, desde que o faça de maneira clara e transparente, já que é regra de qualquer tipo de sociedade a lealdade entre seus membros.

E é justamente por uma questão de lealdade a mim mesmo que optei por não disponibilizar um produto comercial.

Não que eu não possa eventualmente divulgar produtos ou serviços ou mesmo produzir episódio patrocinados, mas se isso for feito será sempre depois de ter testado ou consumido o produto e por acreditar que tal produto ou serviço mereça ser divulgado e compartilhado com os ouvintes.

E no sentido inverso, nada me impede de divulgar produtos ou serviços independentemente de contraprestação financeira, quando eu acreditar que devam ser divulgados.

Acredito que assim poderei continuar fazendo o que que faço com AMOR, como um AMADOR e apresentar aos ouvintes algo de qualidade, com credibilidade, que informe e oriente sem esperar nada em troca, já que esse é o sentimento de quem AMA.

 

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Por enquanto só sei que nada sei...