- Texto: A Primitiva
- Autor: Erika Figueira
- Interpretação: Erika Figueira (@erikapes)
- Música: Two Steps from Hell – Heart of Courage
- Duração: 2min33s
Arte da vitrine: Rodrigo Sena
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Este Po(D)ema faz parte de uma série. Parte 5/24.
A Primitiva
Não rezo, não peço, meu pensamento por muitas vezes é negativo e condizente com minhas origens, elas me permitem louvar aos exus com mais propriedade do que me ajoelhar em nome de Deus.
Me sinto em casa é na desgraça, eu não sorrio pra ser paga em dólar, aliás eu pouco sorrio, na maioria das vezes eu acho um saco sorrir pois prefiro contrair outros músculos, eu sinto um prazer infinitamente maior em pequenos suplícios, eu contemplo sofrimentos, jogo sal em dores e chamo o diabo pra dançar comigo uma valsa.
Com o corpo nu e alma despida eu não rezo, mas escrevo dançando depravadamente entre letras sentando nas letras “i” e bamboleio o “o” cambaleante na cintura, encocho crônicas de pernas grossas…
Me entrego í s letras contabilizando quanto ela me deve pelas carícias e fodas que a tenho dispensado, não faço mais fiado pros meus versos cafajestes e mulatos, pois os personagens malandros vivem nos meus dnas apontam a direção do meu destino.
Há uma gilete entre os dentes do meu verbo e eu vou tirar o sangue dos levianos que não os derem valor, lutando com as defesas misturadas da minha etnia eu vou surrar meus brancos, girar entre pombas gira e sentar em uma encruzilhada esperando…
Chega de milagres medíocres, nos poemas dessa cuia de cermica está o sangue do meu próprio sacrifício.
Escrever pra mim é mostrar o meu rosto antes tampado e expor a vergonha das minhas feridas, é levar o passado pro fundo do oceano como se eu fosse a própria rainha do mar, por isso eu tenho a certeza que meus parágrafos justos me aproximaram de Ogum e sua voz potente ressoa nos meus sonhos:
Exija suas oferendas em espécie mulher!!