O Black Sabbath foi o divisor de águas entre o que existia e o Heavy Metal. Eles mudaram a história da música criando uma nova cultura, praticamente uma nova religiío.

Olá, Headbanger. Falando de Olinda – PE, meu nome é Thiago Miro e este é o Heavy Metal Böx, um podcast que lhe levará para uma jornada ao longo de quase 50 anos de história do Heavy Metal através de seus artistas, músicas e histórias.

Como para mim é uma forma nova de fazer podcast, ainda estou experimentando, vendo formatos, definindo como isso vai ficar de fato. Neste podcast tratarei aqui de fatos históricos, de filosofias, interpretações, análises, tudo isso ao som de muita música boa. E claro, eu deixarei minhas opiniões pessoais e posicionamentos aflorarem e me guiarem. Vamos ver até onde vai…

Então, meu querido batedor de cabeça, coloque um fone de ouvido, aumente o volume e vamos começar essa jornada lá do iní­cio.

[toggle title=”ROTEIRO COMPLETO”]

Estamos em 1966, mais precisamente na Inglaterra, ano em que que o paí­s celebrou sua primeira e única grande conquista no futebol ao vencer a Copa do Mundo sobre a Holanda. Junte isso a explosão musical que Os Beatles causaram na época e você tem o mundo inteiro com os olhos voltados para lá. Agora vamos a cidadezinha de Birmingham. É possí­vel ver, em uma pequena loja de discos um garoto, um adolescente de 18 anos, chamado John, ele está colando um anúncio na parede. E neste papel ele dizia que gostava de cantar e estava em busca de uma banda para se tocar junto.

Esse garoto, chamado John Michael Osborne, mais tarde adquiriu a alcunha de Ozzy, sem grandes referências, este é apenas um apelido diminutivo como Iggy ou Izzy, algo comum usado na Inglaterra na época.

Caramba, você consegue mentalizar ou mesmo tentar mensurar que esse ato tío simples de colar um pedaço de papel na parede, feito pelo ainda adolescente Ozzy Osborne, futuramente, seria a fagulha inicial responsável por mudar completamente a história da música?

Eu não acredito em destino, mas í s vezes eu questiono minha incredulidade frente a fatos como esse que juntam gênios para produzir algo inigualável, que superam a compreensão humana. É difí­cil acreditar em coincidências nesse momento…

Quem sabe hoje em dia algo similar não está acontecendo e nós só saberemos em algumas décadas no futuro…

Tony Iommy, guitarrista, e Bill Ward, baterista, viram esse anúncio, na loja, feito por Ozzy e prontamente atenderam ao chamado. Tony, inclusive, já conhecia Ozzy de longa data, os dois estudaram juntos na infncia. Isso facilitou a criação da banda

Ao grupo ainda se juntaram mais dois músicos, Geezer Butler e Jimmy Philips, ambos guitarristas. Mas fica complicado uma banda com 3 guitarristas, então não demorou muito para que Geezer assumisse o papel de baixista da banda.

Aí­ nessa hora eu me pergunto. Será que isso não foi um ponto decisivo para a banda vir a se tornar o que se tornou? Falando como guitarrista, eu sou apaixonado pela distorção. Perco horas brincando com os efeitos. Será que isso não foi o que fez o baixo do Sabbath ter toda aquela potência que tinha?

Não me entenda mal, o baixo é o instrumento mais importante de uma banda de metal. Para mim, é o baixo que faz o metal ser heavy. Só digo que para um guitarrista tocar baixo não é a experiência que ele espera.

Então, eu realmente acredito que essa mudança na banda, um guitarrista passar a tocar baixo, pode ter sido um dos pontos cruciais para o Sabbath ter sido o que foi. O baixo do Sabbath era muito poderoso

Até então o quinteto formado por Ozzy Osborne, Tony Iommy, Bill Ward, Geezer Butler e Jimmy Philips formaram uma banda de blues rock chamada Polka Tulk. E cara, ouve esse som da banda na época. Você já consegue identificar no Tony Iommy os solos que ele viria um dia a compor.

Quando a banda ainda se chamada Polka Tulk, o guitarrista Jimmy Philips saiu da banda. Os motivos da saí­da dele não são claros, mas cara… é claro que eu tenho que abrir um parêntese aqui.

Mesmo em artigos acadêmicos sobre música, onde ele o Jimmy Philips é citado, eu não consegui encontrar qualquer referência sobre sua vida, se ele ainda é vivo ou não. Mas podemos supor que quando o Black Sabbath atingiu seu auge, ele estava vivo. Cara, imagina o sentimento de sair de uma banda e apenas um ano depois ela explodir. Não só explodir, gerar uma revolução como nunca mais ocorreu na história da música.

A história da música é recheada histórias assim, aconteceu até mesmo com os Beatles. Tem um outro caso assim famoso em que o cara até montou outra banda para competir com a banda da qual ele saiu, um tal de Dave Mustaine, mas isso é papo para outro episódio…

Com a saí­da de Jimmy, o Polka decidiu então mudar seu nome para Earth (Terra em inglês). Em diversos locais da cidade eles costumavam fazer algumas apresentações, tocavam de Jimmy Hendrix a Beatles, passando por Blue Cheer. Mas espera aí­, Beatles?! Sim, meu caro, Beatles é influência direta para o Black Sabbath.

Inclusive em 2014, durante uma entrevista após o Black Sabbath ganhar um prêmio no Grammy pelo excelente disco 13, Ozzy declarou seu amor pela banda de Liverpool. Muito legal isso.

Mas voltando a 1968… rapidamente eles conseguiram gravar uma demo e, claro, essa eu não vou deixar passar. Escuta aí­ Rebel, da época que o Sabbath ainda se chama Earth…

So you lived your life precisely by the rules of the game
Is your mind an open page or will it always be the same?
Did you try to pass the point deny the holder’s job?
If your heart lays with the rebel would you cheer the underdog?

I won’t ask you again if a chill comes to your hand
Some day I’m going back to a world I understand

When the morning light came too late did you ever blame yourself?
Would you leave the unprepared bed every time for someone else?
Is your word in silence heard to pass away the quick and mild?
If your heart lays with the rebel would you cheer the underdog?

Aqui, nós chegamos a outro ponto crucial.

Em 1968, Geezer Butler assistiu a um filme italiano chamado I Tre Volti Della Paura (As Três Máscaras do Terror). Só que não é só o Brasil que sofre com traduções nada a ver com o tí­tulo original dos filmes, tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos, esse filme foi exibido com o nome de Black Sabbath.

Esse nome é uma antagonia ao sétimo dia do calendário hebraico, o dia de descanso, conhecido como Shabat. É a palavra que dá origem ao termo -œSábado-, que seria um dia para parar todas as atividades.

Geezer, inspirado pelo filme, escreveu uma música para a banda e a intitulou como mesmo nome do filme. Uma outra versão sobre a composição dessa música, a qual julgo mais interessante, diz que Geezer pintou seu apartamento de preto, colocou diversos crucifixos invertidos e várias imagens de Satí na parede. Ozzy deu a ele um livro de bruxaria, o qual Geezer costumava guardar ao lado da cama. Numa noite, Geezer acordou e viu uma figura negra em pé parada ao seu lado. Em seguida a aparição sumiu, Geezer virou para o lado em busca do livro e o mesmo havia desaparecido.

Essa música possui ainda outra peculiaridade. A parte instrumental foi composta utilizando-se de uma progressão harmônica que incluí­a a quinta diminuta. Esse é um intervalo conhecido como Diabolus in Musica por ter sido sempre utilizado para sugerir conotações satnicas nas músicas.

A música fala de alguém que acabou de morrer e está indo para o inferno. Ela não tem o que fazer além de se sentir aterrorizada e clamar pela ajuda de Deus.

A letra fala o seguinte:

O que é isso a minha frente?
Vultos de preto apontam para mim
Me recupero e começo a correr
Descubro que fui o escolhido

Uma grande forma negra com olhos de fogo
Diz í s pessoas seus desejos
Satí está ali sentando, ele está sorrindo
Olhe aquelas chamas crescendo cada vez mais
Oh não, não, por favor Deus, me ajude

É este o fim, meu amigo
Satàse aproxima dobrando a esquina
As pessoas estão correndo porque estão com medo
Pessoas devem ir e ter cuidado
Não! Não! Por favor! Não!

Aqui, meu amigo, ouvimos o que viria a ser o marco zero do Heavy Metal. Que bom que foi de uma forma maravilhosa como essa.

Segundo entrevista com Ward, baterista da banda, isso também influenciou o grupo a mudar novamente de nome. Não fazia sentindo uma banda com letras ocultistas e sonoridade sombria se chamar Earth, é algo muito feliz.

Então todos decidiram mudar o nome para Black Sabbath.

Agora estamos no ano de 1970. O Black Sabbath, gravou e lançou seu primeiro disco, com tí­tulo homônimo í banda.

Olha só, a banda se chamava Black Sabbath, o primeiro disco foi intitulado Black Sabbath e a primeira música do álbum é qual?… Black Sabbath. Para mim isso tudo é lindo.

No mesmo ano, em setembro, o Sabbath, com uma criatividade invejável, lançou seu segundo disco, intitulado Paranoid. Ok, no primeiro disco já tí­nhamos música maravilhosas como a homônima e Evil Woman, mas foi com o Paranoid que eles conseguiram, entre aspas, explodir para o mundo inteiro. Neste discos estão os maiores sucessos da banda. Quiçá, os maiores sucessos da história do Heavy Metal. Eu não preciso nem falar quais são, não é? Se você está ouvindo aqui, eu sei que você sabe…

Vamos fazer uma viagem agora, coloque a imaginação para funcionar.

Imagine você em 1970, com a cena musical da Inglaterra explodindo, naquele friozinho de outono, um clima nublado… você está no estúdio enquanto o Black Sabbath faz suas gravações. Num certo momento você ouve o Tony Iommy gravando isso:

É para deixar o queixo cair no chão, não é? Fala a verdade?

Mas cara, vamos pegar esses riffs e juntar com isso aqui, ouve aí­.

É, meu caro, eu sei que você está arrepiado aí­… essa é a primeira versão da música Paranoid. O timbre da guitarra era diferente do que acabou entrando no disco, a letra final até tinha a ver com essa, mas sei lá, a versão final falando de loucura tinha muito mais a ver com o lado obscuro deles.

Ouve esse solo:

Caralhooooo, são solos assim que ficam eternizados. Sío simples, você consegue acompanhar assobiando, você consegue até reproduzir num instrumento, mas só gênios conseguem compor algo assim.

Esse disco foi inteiramente gravado um único dia e com a banda apressada para viajar para a Suí­ça e se apresentarem num show que pagou o incrí­vel cachê de 20 libras. Não sei dizer qual era o valor de 20 libras na época, mas provavelmente não era muito.

O lançamento do disco pegou a Inglaterra de caças arriadas. Lembre-se de você mesmo ouvindo o Black Sabbath pela primeira vez… agora imagine um paí­s inteiro que idolatrava bandas como Rolling Stones e Beatles sendo pegas por um som pesado, forte, sinistro, distorcido, um som que me faltam adjetivos para classificar. As letras que agregavam elementos de ocultismo, eles foram inclusive taxados de satanistas. Mas- quem nunca, não é?

Caramba, sobe mais um riff aí­!!!

O Heavy Metal é um gênero influenciado por diversos outros gêneros musicais da década de 40 e 50 passando a tornar-se por si um gigante influenciador de artistas e, claro, pessoas.

Você, headbanger como eu, deve estar se perguntando se eu vou entrar na famosa polêmica de quem criou o Heavy Metal. Pow, é claro que eu vou. Não tem como falar da história do Metal sem falar de outros gênios igualmente significativos como o Sabbath.

Foi com o Sabbath que o termo Heavy Metal foi designado para uma banda. Sim, eu sei que o final de década de sessenta foi uma época magní­fica para a música com o nascimento de bandas sagradas como Led Zepellin e Deep Purple-

Aliás, deixa eu abrir um parêntese aqui. Se eu pudesse ter escolhido uma época na história para ter nascido, eu fico certamente escolheria ter nascido na década de 50. Imagina só, você no final da década de 60 passeando pela Inglaterra e podendo dar de cada com Robert Plant, Jimmy Page, David Gilmour, Tony Iommy, John Lennon- eu vou parar por aqui, senão eu não paro de falar dessa década. Eu não sei explicar, a Inglaterra possui uma cena musical de uma genialidade inigualável. Espero um dia ir lá para pelo menos sentir o mesmo clima que esses caras sentiam.

Mas voltando, muitos falam que na verdade o Heavy Metal é uma criação do Led Zepellin… será? O nome da banda significa o seguinte:

Zepelim, nome dado ao primeiro dirigí­vel existente criado na Alemanha pelo Conde Ferdinand von Zeppelin. Atribuir essa alcunha í banda seria dizer que o som deles é mais leve que o ar.
Led, palavra inglesa para Chumbo, um elemento quí­mico classificado entre os metais pesados, ou heavy metal, se é que você me entende.

Ao juntar essas duas palavras quiseram dizer que o Led Zeppelin era leve como o ar, mas ao mesmo tempo pesado como o chumbo.

Outros falam que é uma invenção da banda Steppenwolf ao citar -œHeavy Metal Thunder- no meio da música Born to be Wild. [Música] Até os Beatles já reclamaram esse tí­tulo de pais do Metal por conta da música Helter Skelter, por conta de seus compassos similares aos riifs distorcidos do metal. Mas será que era metal mesmo?

Definitivamente não se pode negar a importncia dessas bandas e nem o trabalho maravilhoso que fizeram ao longo de suas carreiras. O Jimmy Hendrix, um cara que se tivesse surgido na década de 70, certamente entraria na cena musical dessas bandas já citadas. Ele também não foi taxado de pai do Heavy Metal. A própria banda norte-americana Blue Cheer, banda do iní­cio dos anos 60 e grandí­ssima influência para o Sabbath, já foi proclamada como criadores do Heavy Metal. Mas eu discordo veementemente, foram influência.

O Black Sabbath foi um ponto de mudança. Antes existia o rock, o blues, alguns subgêneros como acid rock, o rock psicodélico já havia nascido. Mas com o Sabbath passou-se a chamar aquele som de Heavy Metal. Era uma banda de Heavy Metal, discos de Heavy Metal, ahnnn, você entendeu.

Sempre haverá precursores para tudo, nada é inventado do zero. Você pode até mesmo dizer que Vivaldi inventou o heavy metal pela forma com que ele usava os graves, [Música Vivaldi] dizem que os teatros tremiam com o som que a orquestra fazia. E quanto ao Black Sabbath, provavelmente nem era a intenção dos caras criarem algo novo, eles só queriam tocar a música deles e serem bem-sucedidos nisso. Mas o que eles fizeram mudou completamente a história.

O que foi feito ali não mudou somente a história da música. Veja que que eu disse apenas -œhistória-. Sim, meu querido batedor de cabeça, o heavy Metal é muito mais que apenas música, é uma cultura, é quase uma religiío- e do tipo que só tem pontos positivos.

í€s vezes eu tento levar minha mente para 1970 e eu só consigo pensar em uma coisa para dizer. Meu caro, bem-vindo ao Heavy Metal, deixe-me lhe mostrar o caminho.

Esse foi o primeiro Heavy Metal Böx. Muito obrigado por ouvir. Gostou? Assina aí­ para receber uma notificação assim que sair um episódio novo.

Eu me despeço ao som de Paranoid, quiçá o maior hino da história. Até o próximo episódio.

Ah, o trema no O, como diria o saudoso Lemmy, é só porque eu achei legal.

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Criador curioso de sites, editor mais curioso ainda de podcasts. Viciado em séries e podcasts. Leitor nato e aspirante a cientista da computação.