No Ride the Lightning, o Metallica aborda a morte de uma forma magistral. Da pena de morte ao Armagedon, nesse disco teve um espacinho para tudo.

Olá, Headbanger. Falando de Olinda – PE, meu nome é Thiago Miro e este é o Heavy Metal Böx, um podcast que lhe levará para uma jornada ao longo de quase 50 anos de história do Heavy Metal através de seus artistas, músicas e histórias.

O tema de hoje é a morte, um assunto abordado, ao menos uma vez, por todas as bandas de Heavy Metal. Na mesma proporção em que é abordado, o tema se torna cada vez mais incansável de se ouvir.

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Sío inúmeras as bandas do gênero que tem lá suas preferências por temáticas ligadas ao desconhecido ou ao misterioso. Temas como céu, inferno, vida após a morte, mitologia, religiío, lendas, tudo isso tem sido abordado desde o nascimento do gênero. Já mesmo na música marcada como o marco inicial do Heavy Metal, Black Sabbath, conta a história de alguém que está vivenciando os primeiros momentos após sua morte- E descobre que está indo para o inferno-.

Hoje focaremos em um álbum conceitual, composto completamente com inspiração em diferentes tipos violentos de morte. Vamos falar do Ride the Lightning, segundo álbum do Metallica.

Então, por favor, que comece o disco!

Eu fui introduzido ao Heavy Metal através do Metallica, isso já faz 14 anos, foi o álbum St Anger. Sim, aquele que todo mundo fala que é horrí­vel, que o Lars toca num tambor de lata na bateria, tudo isso…

Na época eu costumava ouvir um rock mais light. Ouvia Linkin Park, Ouvia Evanescence… até que um dia estava em um camelô comprando discos piratas na época, e eu via lá a capa do St Anger e fiquei interessado, o nome METALLICA. Eu lembro de ter ficado -œmaluco- com o som que aquela banda fazia.

Mas é claro que não fiquei só no St Anger, fui atrás de conhecer mais a história da banda e acabei descobrindo que o Metallica já tinha uma porrada de discos. Na época eu estava apenas iniciando meus estudos na guitarra e ao ouvir o Ride the Lightning e seus solos gigantescos, complexos, lindos, eu soube ali que ser headbanger seria o meu futuro…

O Metallica é uma banda de thrash metal da Califórnia formada no iní­cio dos anos 80.

– -œDí, como se houvesse necessário eu falar isso aqui--.

O que temos que levar em consideração aqui sobre o Metallica e que, talvez, você ainda não tenha percebido, é que todos os álbuns do Metallica são conceituais. E o que isso significa, meu jovem batedor de cabeça? Isso significa que todas as músicas de um disco são feitas em cima de temática prioritária. Uma temática fixa.

No Ride the Lightning o Metallica decidiu abordar a morte em diferentes formas.

O disco foi lançado em 27 de julho de 1984 e em 2007 entrou, juntamente com mais 3 álbuns do Metallica, para a lista dos 200 álbuns essenciais da Rock and Roll of Fame. Hehehe, não é pouca merda.

O tí­tulo do álbum faz referência a uma gí­ria usada em presí­dios norte-americanos onde a pena de morte na cadeira elétrica ainda é permitida. Ride the Lightning, em português ao pé da letra Cavalgue no relmpago, poderia ser traduzido como -œAproveite o momento-. Afinal, será o último.

O tema ao qual o tí­tulo se referencia também foi reproduzido na capa do disco ao trazer uma cadeira elétrica sendo atingida por raios. Uma arte belí­ssima.

Mas vamos ao que realmente interessa, vamos falar de música.

A primeira música do disco chama-se Fight Fire with Fire, em português seria algo como enfrente o fogo com fogo. Nessa música já possí­vel notar uma evolução grande do Metallica como banda. Agora eles passaram a ser mais harmônicos, as músicas ficaram mais complexas. Essa caracterí­stica que o Metallica tem de evoluir é algo que eu abordarei em outro episódio.

Fight Fire with Fire fala de vingança. Desde pequenos a grandes atos que levam a cada vez mais morte. Em um trecho da letra a banda se pergunta, -œMas em que diabos o mundo está se tornando?-. A cada nova vingança, a proporção aumenta ao ponto da Guerra nuclear, o armagedom.

Temos que lembrar que o disco foi lançado em 1984, quando a Guerra Fria ainda existia e o medo de uma Terceira Guerra entre Estados Unidos e Uniío Soviética era real e latente, poderia acontecer a qualquer momento.

O sentimento geral era, como diz o refrío da música diz: -œEnfrente fogo com fogo, o fim está próximo-.

Aqui chegamos a música que dá tí­tulo ao disco, Ride the Lightning. Nesta música abordou-se dois temas polêmicos: A pena de morte e a execução na cadeira elétrica.

A cadeira elétrica é uma invenção de Thomas Edison, aquele mesmo- ele a criou utilizando a corrente alternada com o intuito de mostrar o quanto seu uso era perigoso. Nessa época Thomas Edison, detentor da patente da corrente direta, lutava contra o engenheiro Nicola Tesla, para desbancar sua descoberta.

O primeiro exemplar foi criado em 1980 e utilizado pela primeira vez em William Kemmler, um prisioneiro condenado por assassinato. Dizem que 17 segundos após ter recebido uma corrente com tensão de 1000 volts e ser declarado como morto, William voltou a respirar, o que obrigou a seus executores aplicarem novamente a corrente por longos 2 minutos, o que gerou uma fumaça densa e escura causando vômitos em quem estava presente durante a execução.

Ainda hoje a pena de morte na cadeira elétrica é aplicada em alguns estados norte-americanos. Em alguns deles, essa é a única forma de execução dos condenados.

A música do Metallica traz a experiência de quem está prestes a ser executado em um desses confortáveis artefatos. É incrí­vel como a banda consegue transmitir o momento da execução.

Trechos da letra dizem o seguinte:

A morte está no ar
Isto não pode estar acontecendo comigo
Quem lhe nomeou Deus para tirar minha vida?
Alguém me ajude
Por favor, Deus, me ajude
Eu não quero morrer
Eu vejo o brilho diante dos meus olhos
Agora é hora de morrer
Meu cérebro está queimando
Eu consigo sentir as chamas

Ride the Lightning foi composta por Cliff Burton, James Hetfield, Lars Ulrich e Dave Mustaine- sim, meu caro, essa é uma música remanescente da época que o Mustaine ainda estava na banda. Não me surpreende a qualidade.

Ride the Lightning ainda possui um solo composto com uma pancada de variações e técnicas que fazem pensar que o Kirk Hammet deveria estar possuí­do para compor algo assim.

A morte descrita nessa música acredito ser a pior de todas as retratadas no disco. Eu não gosto nem de imaginar E você, por favor, tente fazer o mesmo.

Aqui chegamos na terceira música do disco e como diria James Hetfield: For Whom the Bell Tolls!!!

Se você não é um grande conhecedor da história do Metallica, provavelmente vai surpreender com essa informação. Boa parte dessa música foi composta pelo baixista Cliff Burton. E ela uma peculiaridade que na introdução da música tem um riif que parece ser uma guitarra executando, mas é o Cliff com o baixo tío distorcido quanto uma guitarra.

Cara, ouve só o baixo da música separado, vê que impressionante.

A letra da música foi inspirada no livro For Whom the Bell Tolls, escrito pelo norte-americano Ernest Hemingway, que conta a história de um professor estadunidense que lutou na Guerra Civil Espanhola e tinha a missão de explodir uma ponte. Apesar da história se passar em apenas três dias e três noites, o personagem diz ter a sensação de ter vivido toda a sua vida ali.

A música aborda, de forma resumida, essa mesma história. O momento em que o sino toca é o momento da sua morte.

Tem um trecho da música que arrepia:

Dê uma olhada para o céu antes de morrer
É a última vez que você o fará

Espetacular. Recomendo buscarem pelo ví­deo dessa música sendo tocada em um show na época em que Cliff ainda era vivo. Provavelmente você nunca mais verá um baixista tocar como ele tocava-

Fade to Black, ou em português -œcair na escuridío-, é uma das músicas mais profundas que o Metallica já fez. Ela aborda de forma simples e madura o suicí­dio.

A música fala de um homem que reflete sobre a morte, contempla o suicí­dio e, ao fim, o comete.

Segundo entrevista de Lars para a MTV, em 2003, essa foi uma época em que ele e James Hetfield eram obcecados pela morte. Após ter sido lançada essa música se tornou uma das mais icônicas da banda, uma música quase que obrigatória em todos os shows.

E claro, a música é linda.

A música agora é Trapped Under Ice, aprisionado sob o gelo. A letra dessa música fala de alguém que está em estado vegetativo apenas esperando pelo momento de sua morte. Seu desespero por não conseguir se mover, pela dor que sente, por sentir sua alma sendo congelada… para viver ele morre aos poucos. Ele está preso sob o gelo.

Do meu ponto de vista essa me parece uma morte muito difí­cil de se lidar. Você já se perguntou sobre isso? Se acontecesse com você de acabar em estado vegetativo, você gostaria de continuar vivendo?

Escape é uma música que trata sobre fugir da realidade, sobre viver da forma que você quiser. Ela pode ser interpretada como um prisioneiro que acabou de fugir da prisão ou mesmo pode ser interpretada como alguém que queira lhe privar de ser quem você é.

Essa é uma música que foge um pouco a temática do disco, não conseguimos ter uma interpretação concreta dela. Os próprios músicos do Metallica já disseram que não gostam muito dessa música. Os fís também não costumam gostar muito.

E só para ter uma ideia, essa é a música do Metallica que ficou mais tempo sem ser tocada ao vivo pela banda, chegando a quase 28 anos na geladeira.

No meu ponto de vista, a música é ok, mas poderia facilmente ter saí­do desse álbum. Ela não soa como o thrash metal das outras músicas do disco, tem mais cara de uma música que entraria no Black Album. Mas enfim, faz parte- Vamos para a próxima.

Agora a história é completamente diferente em relação a música anterior, Creeping Death deve ser uma das músicas mais tocadas do Metallica ao lado de Master of Puppets.

Antes de partimos para falar da música, dá uma olhada nisso que eu achei, ouve a demo dessa música e repara na voz de menino adolescente do James Hetfield.

Massa, não é? Mas enfim, há tanto o que se falar sobre essa música. Senta que lá vem história- literalmente.

Num disco que fala sobre a morte, o Metallica foi magistral ao falar da morte do primogênito do Faraó, história essa relatada do livro do íŠxodo, quando Moisés finalmente consegue libertar os hebreus da escravidío no Egito.

No livro do êxodo, capí­tulo 11, versí­culo 4, Deus diz a Moisés:

í€ meia-noite eu sairei pelo meio do Egito;
E todo o primogênito na terra do Egito morrerá, desde o primogênito de Faraó até ao primogênito da serva e todo o primogênito dos animais.

E assim aconteceu, Deus tirou a vida de todos os primogênitos daquelas famí­lias que não acreditaram no que Moisés avisou.

A música fala sobre a Creeping Death, ou em português conhecido como Anjo da Morte. Na música são relatados os momentos que a morte passa pelo Egito sob a perspectiva da própria morte.

Então seja escrito
Então seja feito
Eu fui enviado pelo escolhido para matar o filho do Faraó
Eu sou o Anjo da Morte

Eu comando o ar da meia noite
Morra pela minha mão
Eu rastejo e trago a escuridío
Eu sou o Anjo da Morte

Cara, que coisa linda essa música. Uma letra sensacional, um instrumental incrí­vel-

Creeping Death não é só uma música, é uma experiência. Um novo sentimento a cada vez que se escuta.

The Call of Ktulu é uma música instrumental inspirada no conto de mesmo nome escrito por HP Lovecraft em 1926. Cliff Burton era fí da obra dele. Há de se ressaltar que essa música também teve a assinatura de Dave Mustaine, então provavelmente é uma música bem antiga dentro da banda.

Inicialmente a música se chamaria -œWhen Hell Freezes Over-, mas por influência de Cliff o nome foi alterado.

Essa música já rendeu ao Metallica um Grammy de melhor performance instrumental, quando eles a tocaram em versão orquestrada naquele disco Symphonica & Metallica.

Ktulu é um deus, criado por Lovecraft, que representa o terror máximo. Ele é um ser de forma indescrití­vel e seu nome é impossí­vel de ser pronunciado por um ser humano. Ktulu seria a forma mais próxima de chamá-lo.

De acordo com Lovecraft, os seres humanos nunca poderío entender totalmente a natureza de Cthulhu, pois sua existência vai além da compreensão mortal.

Segundo a lenda, quando ocorrer o seu retorno, algo que seus seguidores anseiam bastante, será o fim da humanidade, a morte de todos, o apocalipse.

É isso, meu querido batedor de cabeça, espero que você tenha aprendido um pouco mais sobre essa obra magní­fica do Metallica. Ride the Lightning é de fato um álbum essencial.

E assim eu encerro este episódio do Heavy Metal Böx. Você gostou desse episódio? Assina aí­ para receber uma notificação quando sair um episódio novo? Se não souber como assinar, manda um e-mail para contato@heavymetalbox.com.br que eu lhe mostrarei como assinar.

É isso, eu vou indo e você ficar aí­ com o Chamado de Ktulu. Cuidado-

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Criador curioso de sites, editor mais curioso ainda de podcasts. Viciado em séries e podcasts. Leitor nato e aspirante a cientista da computação.