• Texto: Quase uma carta que não escrevo
  • Autor: Sammy Vallo
  • Interpretação: Erika Figueira (@erikapes)
  • Música: Sucre’s Dilemma – Trilha da série Prison Break
  • Duração: 4min24s

Arte da vitrine: Rodrigo Sena

Erika Figueira - Quase uma carta que não escrevo

Quase uma carta que não escrevo

Eu não sei mais do que sinto tanta falta. Daí­ acredito em outras vidas pra justificar essa saudade. Eu sei que o tempo está acabando e encantamento virou tristeza porque a realidade dói porque eu prefiro assim. Sem companhia ou bom dias, e é bem assim que tem que ser… Estou me despedindo e não sei se você não entende ou se entende tío bem que se afasta. Sabiamente. É estranho, sabe. É bem estranho. Um nada inexistente. Ninguém nunca me viu dessa forma, ninguém nunca me leu assim, OU então o fingimento convence. Eu acredito nisso. Eu prefiro a dor í ilusão… Não me permito mais, não posso… Já foi o bastante. O duro é ser merda desprezí­vel. E que não vai passar com a banda porque nunca passa essa merda.

Eu confundi tudo e no fim é só isso. E eu vou embora, me jogar no rio parado, sujo e fedorento e verde e lamacento e ficar lá. Até ficar verde também. Haha Até ficar verde… Porque no fim eu nem sei mais do que sinto falta… Se é de você ou se é de mim. As falsidades e as mentiras e as contradições dessa maldita vida… E eu sempre vou pedir desculpas porque não sei estar aqui sem ter vivido realmente e pensando assim concluo que minha vida é a uma desgraça lamurienta.haha Lamuriosa.Lamúria rosa.

Tristeza desatino. Dor sem destino. Cutucando a ferida com caco de vidro, sangrando por dentro, vomitando ao contrário.. Oh!

E eu não tenho muito a oferecer além das mãos vazias, um corpo murcho, uma saudade infinita, de quê e pra quê nennhum deus pode saber e eles também não se importam muito com a miséria humana, senão não seriam deuses… Estou cansada demais e o corpo pesa com tanta inutilidade, pesando os cabelos com a água da chuva do céu carregado pelo vento e depois vem o sol queima tudo.

O que dói é saber que não há mais nada que me impeça de fugir. O voo cego contra a parede. O chão nunca foi tío confortável, mais uma vez vamos í fossa. De volta ao fosso, de volta í fossa…

Entre os meus iguais, irmãos malditos das sombras enevoadas e eu lembro do seu cheiro bom e tudo volta a escorrer pelo rosto…Eu vou me afastando devagar, negando sentimentos, tudo que quero é não sentir, anestesiar o corpo e a mente e dormir…Na amplitude das ausências e sentidos falhos encontro algo que chamo de paz, mas tem textura de sangue e sofrimento e lembra algo da dor, mas é mais calma, plácida, mortificada, apática no vazio da existência apodrecida.

Contando os dias de trás pra frente, querendo voltar onde nunca se foi, por medo, covardia, ansiedade…Por querer tantas mãos e não restar nenhuma entre os cabelos, não restar nem cabelos, não restar.

É um corpo apodrecendo sozinho no porta malas de um carro afundando na lama, no fundo da fossa, do poço cavado com os dedos sem unhas sangrando, com os dentes caindo e batendo na lataria enferrujada… Não há muito a oferecer, não há surpresas e é sempre a mesma música e o mesmo medo e não há surpresas, definitivamente. E eu resto aqui de mãos vazias. Sem nada a oferecer além delas. Sem saber o que nelas caberia se não fosse o vazio da saudade de sabe-se-lá-o-quê.

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